sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Saúde pública na Itália

Existe uma discussão em torno do conceito do que é o primeiro e terceiro mundo e se os países se enquadram completamente nesse standard. Sinceramente eu acredito mais em um outro tipo de classificação: a distribuição da riqueza de um país. Não se pode afirmar que o Brasil seja um país pobre em absoluto, mas é cheio de pobreza. O sistema público de saúde assim como outros serviços que deveriam garantir o bem estar social sofrem um estrangulamento nas suas receitas como um reflexo desta concepção de sociedade que usa os mecanismos de assistência para remediar as injustiças de maneira insuficiente ao invés de usá-los como garantia de um direito básico de todo cidadão. Na prática, a coisa funciona assim no Brasil: saúde publica é para aqueles que não têm a capacidade de pagar um bom plano de saúde (tem que ser realmente bom, senão o cidadão, mesmo pagando, se sentirá em dificuldades).
Na Itália a mentalidade é outra. Logicamente o crescimento custou anos de experimentações, passando por regimes desastrosos, guerras e lutas sociais. A conclusão é que a saúde é um direito do cidadão e deve ser garantido pelo Estado. As taxas sobre rendas e serviços são altas, existe evasão fiscal e corrupção e algumas regiões são menos organizadas que outras, mas, no geral, a coisa funciona.
Tudo parte do conceito de residência. Uma vez estabelecida, depois de todos os procedimentos previstos, a pessoa passa a ter o "comune" (prefeitura) como centralizador de todo tipo de assistência a que tem direito. Basta procurar o setor responsável e fazer a sua inscrição. Na hora eles emitem uma carteira de saúde provisória, e depois de algum tempo chega a definitiva pelo correio. Fornecem uma lista com o nome e endereço de todos os médicos cadastrados da cidade e a pessoa escolhe aquele que preferir. Esse médico serve para todo o núcleo familiar, o atendimento é feito no seu consultório particular e, em caso de necessidade, ele vai atender a domicílio, e é totalmente gratuito. Se ele faz um encaminhamento para um especialista ou exames, basta ir até a central de agendamentos (no caso de grandes cidades tem mais de uma) e marcar mediante uma pequena taxa ( uma consulta com um especialista custa em média 17 euros). Se o paciente tem algum tipo de doença crônica, como alergias, hipertensão, etc, a medicação é fornecida gratuitamente, e, em alguns casos, isso abrange também exames de controle periódicos. Se houver necessidade de uma intervenção cirúrgica não urgente é necessário um tempo de espera que varia conforme a região e a especialidade, e no caso de urgência, a assistência nos hospitais em geral é muito boa e completamente gratuita.
Quanto aos estrangeiros, se é uma viagem de no máximo três meses (como turista), vale a pena ter um seguro saúde. Existe um convênio entre Brasil e Itália que garante essa assistência, e para isso é necessário tirar o CDAM- Certificado de Direito à Assistência Médica que é emitido pelo Ministério da Saúde- Setor de Acordo e Convênios Internacionais. Um dos documentos exigidos é um comprovante de contribuição da Previdência Social, por isso é necessário regularizar essa situação. Para endereços e documentação, recomendo este site (fala do Convênio Brasil - Espanha mas o procedimento é igual) http://www.caminhodesantiago.com/saude.htm .
Para uma abordagem mais profunda a respeito de um estudo comparativo da saúde pública no Brasil e na Itália, recomendo este site: http://www.scielo.br/pdf/icse/v13n29/v13n29a03.pdf .

5 comentários:

  1. Gostei. Achei sua visao sobre a saude publica no Brasil e Italia bem objetiva e clara, e parece q apesar dos problemas a coisa é bem democratica. Parabèns. Alvaro

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  2. Também gostei. Concordo com a questão da "distribuição de riqueza" como um critério muito mais objetivo para julgar o desenvolvimento de um país. É bem mais justo. Quanto ao sistema de saúde da Itália, vejo dificuldade na consulta com um especialista por causa da espera. Pode ser longa, de até três meses ou perto disso. Não sei se em casos de urgência esta espera diminui. No caso da minha mãe, que tem Alzheimer, tive de levar a um particular porque não quis esperar tanto tempo: paguei 60 euros numa excelente consulta. Valeu a pena. Creio que é um valor baixo para um cardiologista, se pensarmos no valor de uma consulta brasileira. De resto, minha mãe não paga nada: consultas, hospital, exames e remédios.
    beijos! Rosa

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  3. O ticket que paguei para uma consulta com o oftalmologista foi de 28,50, enquanto no Brasil, pelo SUS, nao pagava nada!
    Meu marido teve que fazer uma ecografia dos rins em junho e a disponibilidade era so para outubro. Teve que pagar um particular e o resultado nao foi tao eficiente assim (outra ecografia, feita dois dias depois em uma cidadezinha da Alemanha, acusou calculo renal).
    A CRS (Carta Regionale di Servizi) consegui gratuitamente depois do meu casamento porque quando tinha o permesso di soggiorno por motivos de estudo, o valor da mesma era de quase 200 euros!
    O que notei aqui foi a lenta e às vezes dificultosa burocracia em grande parte dos serviços italianos, sejam publicos ou privados. Sinceramente esperava algo melhor em relaçao ao Brasil, mas vi que às vezes o Brasil supera de longe a Italia.
    Todos esses casos se referem a regiao da Lombardia, uma das melhores da Italia.

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    1. Anônimo, custo muito a crer na sua história. Diz que no Brasil (onde não está, segundo você mesma, se for realmente mulher, disse) não pagava nada por consulta em oftalmologia. Ora, no Brasil, pelo SUS, leva-se meses ou até anos para uma simples consulta oftalmológica. Para quem diz que está na Itália, casada com italiano, há bastante tempo pelo visto, afirmar que o Brasil supera longe a Itália em questão de saúde pública, é para desconfiar que você é farsante se escondendo como anônimo (masculino).

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    2. Para contestar a sua farsa, anexo estudo da OMS (que, obviamente, entende mais de saúde pública do que você) para se atualizar e não postar besteiras aqui. http://economiadeservicos.com/2016/02/25/brasil-possui-o-sistema-de-saude-mais-ineficiente-do-mundo/

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