terça-feira, 1 de setembro de 2009

Coração ítalo-brasileiro


Stephanie Lolli, uma simpática paulistana de 17 anos, que vive na Itália com os pais desde 2004, nos conta como foi a sua mudança para um outro país e como foi seu processo de adaptação.
Macarrão todo dia - Quando seus pais decidiram se transferir para a Itália, qual foi a sua reação?
Stephanie– A primeira reação foi de surpresa. Eu levei um susto. Não fiquei muito ansiosa de vir pra cá porque eu ia ter que deixar todos os meus amigos da escola e não sabia nem falar italiano, mas quando a gente chegou aqui a coisa deu uma melhoradinha. No começo, quando eu contei para as pessoas que eu conhecia que estava indo embora do Brasil, todos ficaram surpresos, alguns perguntavam o que é que eu ia fazer na Itália, que era melhor ficar onde eu estava, e outros diziam que ia ser legal.
Macarrão todo dia – Você já tinha vindo alguma vez pra Itália, como foi essa sua transferência?
Stephanie – Eu nunca tinha vindo pra cá, mas meu pai já tinha vindo várias vezes, desde quando ele era pequeno, porque tinha alguns parentes aqui. Então, quando ele falou que era melhor a gente vir pra cá, eu confiei nele (risos), não tinha outra escolha. Eu tinha 12 anos e estava fazendo a 6°. série no Brasil. Como a gente veio em julho, eu estudei até a metade do ano. Quando eu cheguei aqui era o período das férias, então eu fiquei até setembro aqui em casa, fazendo nada.
Macarrão todo dia – Qual foi a sua primeira impressão chegando aqui na cidade em que você mora?
Stephanie – Quando eu cheguei em Bastia, eu achei um tédio total. Eu estava acostumada com São Paulo, e aqui não tinha muita gente na rua, só uns velhinhos andando de bicicleta, então eu achei meio ruim no começo. Mas quando iniciou a escola eu comecei a fazer as amizades e melhorou bastante.
Macarrão todo dia – Em relação à escola, você começou aqui em que ano? Como foi seu primeiro dia de aula?
Stephanie – Era 2004 e eu comecei o primeiro ano da escola média. O meu primeiro dia de aula foi assustador (risos), porque eu não sabia falar. Meu pai falava bem, então ele me acompanhou na escola e conversou com a professora. Eu conheci 6 professores diferentes e a primeira aula foi de matemática...Ela explicou algumas coisas e eu não entendi nada(risos). Era uma escola nova pra todo mundo da minha classe e a gente se apresentou na frente dos alunos de 3°. ano que fizeram um tipo de recepção. Eu fiquei morrendo de vergonha, mas as professoras foram bem legais comigo. Durante todo o primeiro ano eu tive uma professora de reforço, para mim e para outros colegas estrangeiros . Já no começo dava pra entender alguma coisa, porque meu pai às vezes,mesmo lá no Brasil, falava com a gente em italiano.Depois de dois ou três meses já dava pra entender legal, só que eu falava meio estranho ainda. Quando as pessoas falavam muito rápido comigo eu não conseguia acompanhar e a maioria falava em dialeto, mas os professores diziam sempre para falarem comigo em italiano e devagar pra eu poder aprender direito. Eu tenho boas lembranças desse tempo.
Macarrão todo dia – Hoje, qual escola você faz?
Stephanie– Hoje eu estou fazendo o Instituto Técnico do Estado no setor comercial e turístico. O curso tem 5 anos e eu vou começar o 3°. Tem a opção de parar no 3°. ano porque você pode fazer um exame , pegar o diploma e já começar a trabalhar, mas eu decidi fazer os cinco anos.
Macarrão todo dia – Quando você morava no Brasil, tinha uma idéia formada do que gostaria de fazer no futuro?
Stephanie – Quando eu morava no Brasil, até os doze anos, eu tinha a idéia de ser veterinária. Aí eu cheguei aqui e mudei de idéia, quis ser esteticista e agora eu estou meio perdida (risos). Já nao sei se quero ser esteticista ou então...não faço nem idéia.
Macarrão todo dia – Além do seu amadurecimento natural, você acha que o fato de estar morando na Itália contribuiu decisivamente para esta mudança de opinião?
Stephanie– Eu acho que sim, porque no Brasil existe aquela idéia de que a pessoa deve estudar, fazer a universidade pra ser alguém na vida, aqui já é uma outra coisa porque ninguém tem muita vontade de estudar, ninguém está muito afim de fazer a universidade, só alguns poucos. Isso porque aqui mesmo quem não faz a universidade consegue achar um emprego, ou senão tem os pais que ajudam a ter um negócio. Aqui não tem muito dessa vontade de querer fazer as coisas sozinho e chegar lá. Não tem muita diferença de salário entre quem tem um diploma universitário e quem tem um diploma técnico.
Macarrão todo dia – Você tem cidadania italiana, é neta de italianos, mas se sente italiana?
Stephanie – Não, eu sempre falo que sou brasileira, eu nunca falo que sou italiana. Me sinto muito mais brasileira porque eu passei toda a minha infância no Brasil.
Macarrão todo dia – Você acha que aqui o fato de ter vindo do Brasil é um fator positivo ou é um problema a ser superado?
Stephanie – Eu acho que aqui na Itália os estrangeiros são vistos de um modo um pouco diferente. Como tem muito estrangeiro vivendo aqui os italianos criam uma certa distância. Comigo nunca falaram nada, sempre fui bem aceita, mas depende, porque tem muitos estrangeiros que fazem bagunça, coisas erradas e os italianos generalizam bastante. Eu tenho também a minha visão crítica do comportamento dos jovens daqui e vejo que não é a origem da pessoa que define tudo. Existe também uma diferença de adaptação dependendo da idade que a pessoa tem quando chega. Minha irmã menor que chegou na Itália com 6 anos, foi alfabetizada aqui e quase não tinha uma vida social no Brasil, praticamente não sentiu a mudança como eu, foi mais fácil pra ela.
Macarrão todo dia – Você voltou para o Brasil neste período? Qual foi a sua impressão? Você voltaria a morar lá?
Stephanie - Sim, voltei em novembro de 2008 e passei 20 dias por lá. Eu adorei ter voltado pra São Paulo, estava morrendo de saudades dos lugares, das comidas, do pessoal e até do trânsito. Eu acho que não mudou muito, é aquela bagunça de sempre, não foi nenhum choque. Penso que eu voltaria a morar lá.
Macarrão todo dia – Você tem planos para o seu futuro na Itália? O fato de pertencer à Uniao Européia tem alguma influência nos seus planos?
Stephanie – Eu penso em terminar os estudos e começar a trabalhar. Estudo inglês e faço também francês na escola, isto somado ao português que eu já falo pode me abrir portas para encontrar um bom trabalho, mas não penso em morar em outro país da Europa.
Macarrão todo dia – Quais são as coisas que você gosta da Itália e quais as que você não gosta?
Stephanie – De um modo geral eu gosto muito daqui, mas o que eu gostaria que fosse diferente é essa coisa do preconceito com os estrangeiros. Tudo bem,tem aqueles que são bonzinhos, que fazem tudo direito, e aqueles que só fazem bagunça, e seria melhor se as pessoas pudessem ser reconhecidas por aquilo que elas são de verdade.
Macarrão todo dia – Você daria algum conselho aos pais que pensam em se mudar para o exterior com a família?
Stephanie – Eu acho que se eles querem mudar de país pra ter uma vida melhor e dar uma oportunidade para os filhos, devem ir mesmo. No Brasil, se você não tem um emprego muito bom , não consegue viver bem e em um país como a Itália, isso já é possível. Vale a pena a mudança, no entanto a gente acostuma mesmo (risos)!

2 comentários:

  1. Este blog é excepcionalmente importante para o interessado em imigrar à Itália, até para a Europa. Acesso-o todos os dias a fim de me inteirar de novos fatos e informações relacionados. Bendita Internet e benditas pessoas corajosas, competentes e honestas como as do restaurante de conhecimento e energias "macarraotododia..." Parabéns e obrigado

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  2. Agradeço o comentàrio! Obrigada pela força!Se tiver sugestoes ou dùvidas pode me mandar. Um abraço!

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